terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Mito do Anão de Jardim.

Capítulo III

Valéria não queria mais sair do jardim. Quando voltava da escola dava uma passadinha rápida lá; estudava um pouco e, ao anoitecer, voltava ao seu paraíso; onde ficava até altas horas da madrugada. Valéria, não quero mais você até tarde naquele jardim, disse a senhora da casa, Tá bom, mãe, respondeu a sinhazinha. Mas ela confirmava por confirmar: sempre dava de ombros. Certa noite, calma e quente, a menina em seu recanto, e num canto com seu fiel companheiro, aconteceu. Os dois conversavam sobre quereres, um mais interessado no que o outro dizia. Cada qual exalava o seu mundo, enquanto o outro o inspirava. E a cada minuto, ambos sentiam uma necessidade de chegar mais perto do outro para sentir melhor esse frescor, postaram-se tão próximos que o beijo foi inevitável, na verdade, inconscientemente planejado - confirmam tantos foram os outros que se sucederam. E tantos foram os encontros, e tantas as horas, que de tão rápidas, nem as notavam. A menina agora não mais estudava ? apenas ia pra a escola -, pois passava o seu tempo todo pensando em seu anão de jardim. Dele não se têm notícias, ao não ser por Valéria, afinal, quem poderia saber de algo sobre um anão de jardim, duende ou coisa parecida? Só quem os cria. Cedo ou tarde o ?mal da despedida? assola os que se gostam. Ele convocou sua presença no ?cantinho?, e ela já chegou com seus olhos cheios de lágrimas, Isso mesmo, ele disse, Tenho que ir embora, nossa fantasia tem que acabar; continuou, foi quando um filete de lágrima rasgou a face de Valéria. Antes de ele continuar, ela gritou, Eu te amo. Criaturas de outro mundo choram? Anões de jardim não, pelo menos esse, pelo menos não como os humanos costumam fazer. O diálogo prosseguiu. Argumentos eram muitos, de ambas as partes. Ele, Tenho que ir, não pertenço a esse mundo, não posso amar ninguém além desse jardim. Realmente, seu argumento era forte, mas ela investiu, Você pertence a esse mundo sim, pois esse mundo é só meu e seu, é nosso. Eu te amo, ele disse. A conclusão é que os dois entenderam que se completavam, em um perfeito encaixe lima-fechadura; amavam-se inocentemente. Amavam-se tanto... E o duende - com toda sua experiência - soube quando era chegada a hora certa, e pegando Valéria pelas costas, escalando aos beijos o seu pescoço, com toda paciência do mundo, tirando o cabelo sobre sua orelha, recitou aos sussurros um lindo e excitante poema de Maria Borges, dito Ato, Minha vontade transborda.../ E nessa hora,/ seu desejo sobra.../ Ardem,/ separadas,/ as peles expostas ao tato.../ Meu amor,/ de fato,/ só nos falta/ o ato. P.S.: O referido poema foi retirado do site http://pensamentoepoesia.blogspot.com/, com a devida autorização de sua responsável, a quem agrademos a doce colaboração.

3 comentários:

Unknown disse...

Que criativo, diferente!Curti muito o texto!
Que bom reativar o blog, acho que nos ajuda a refletir mais.
Pois é, aquela poesia que escrevi deveria ser na perspectiva "tudo acabou".O receptor é que não entende... =(
Obrigada pelo comment, apareça quando quiser.
Curti o seu, persevere!
Abração!

Tati Sabino disse...

Olá! Primeiro obrigada pela visita, volte sim..sera um prazer.. li apenas o ultimo post..mas volto com mais calma para ler os outros tá...
Seja bem vindo vizinho..haha
ótimo feriado!...ate mais..

Nosrednew Solrac disse...

po cara, gostei mesmo! De que profundos devaneios vc tirou essa inusitada história de amor, heim? Massa, cara! Abraços!!