domingo, 28 de dezembro de 2008

A Banda da Rainha Vitória de França


Capítulo III

Lúcio, não sei o que ta acontecendo comigo. Aliás, talvez eu até saiba. Não, eu acho que não sei, mas sinto algo se repetindo. Estou cansado. Está tudo errado. Vou largar tudo. Eu sei, sou um caso a se estudar. ... quero repousar. Davi não mais sabia o que fazer, não mais tinha a situação sob controle: ele, tão controlador, agora era passageiro, calado, introspectivo, aparentemente pensativo. Nem tudo é o que parece. Maluco, eu também estou numa situação difícil. Não sei o quanto, por isso não posso comparar. Mas, doido, eu não sei mais o que se passa comigo. Minha relação com a Cecília está uma merda. Gosto muito dela, acredito que ela sinta o mesmo, mesmo todo mundo me mostrando o contrário, mesmo as atitudes dela me mostrando o contrário. Davi, tô fudido. Pareciam dois monólogos, cada qual com sua crise existencial e desabafando para si próprio. Como era de se estranhar, Lúcio e Cecília tiveram uma conversa amena, calma, sem brigas ou agressões verbais (nem mesmo um “ah, vai se fuder”), nada de arranhões ou beliscões. Tudo indicava um fim. Diferentemente das outras vezes – onde sempre voltavam o namoro -, agora parecia definitivo, a não ser pelo fato de pertencerem a mesma turma de amigos e se tratarem como se namorados ainda fossem, exceto pelo lado bom da coisa (entenda-se: lado saudável). Por fim, o aparente fim. Lúcio precisava de uma amiga e encontrou em Amélia uma companhia onde poderiam trocar idéias e se divertirem juntos. Suas histórias se entrelaçavam (tudo baseado em fatos reais). Enquanto todos questionavam com o próprio Davi o seu silêncio, ele desejava apenas queria fumar seus cigarros Carlton – tinham acabado. Depois de tantos dias em silêncio, a bomba, na hora supostamente errada, estourou. Em meio a um ensaio da banda, Lúcio e Davi tiveram uma ácida discussão. Discussão como outra qualquer, iniciada por assuntos não resolvidos que se acumularam a ponto de estragar uma amizade. Davi guardou a guitarra, desplugou o equipamento. Tu vais pra onde? Não vai mais tocar? Perguntou Lúcio insano. Acabou, tô indo pra casa, retrucou Davi, e saiu do estúdio. Uma pobre desavença. Um estúpido fim de uma banda de amigos talentosos. Lúcio tinha muita ira e afinidade com Amélia para procurar Davi e tentar resolver problemas sobre relações de amizade – passava o dia inteiro conversando com Amélia. Tanto era assim que da paixão de ambos pela música, especificamente pelo estilo de vida grunge, e contando com a vaga de guitarrista na banda de Amélia, resolveram tocar juntos. A banda agradou. Cansou de covers e resolveram gravar uma demo. Músicas de Davi e Lúcio de tempos atrás foram aprovadas pelo resto dos componentes da nova formação e pelo público local que se formava. Entraram no cenário – a cena mais comum era os dois se beijando apaixonadamente. Não havia resquícios de passado. Não havia histórias passadas nem históricos pessoais. Havia sentimento. Fazia um certo sucesso local A Banda da Rainha Vitória de França. Pareciam felizes, apesar de nem tudo que parece realmente o seja. Diz a Lenda que Davi abandonou o trabalho, e sem despedidas virou andarilho. Foi visto pela última vez com velhos ciganos nos bálcãs. Tocava acordeão, mas não parecia maltrapilho, apesar do desleixo nas roupas e nos cabelos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pelo menos Davi ainda tem cabelo e não deixou a musica.
=)
Xeros

P.S: Obrigada pelo presente. Fiquei surpresa ao te ver.
FELIZ ANO NOVO, titio!

Xuxudrops disse...

Humm. São um saco essas brigas em que ninguém nada tem a dizer, tão calmas, amenas.Pior que sentir o ódio do "vai se fuder' e sentir o desprezo, é ignorar sentimento.É não sentir nada. Aí, sim, é o fim mesmo.
Que viagem!
Adorei!

Feliz 2009!